Encontrar ou não encontrar o amor em meio a pandemia?
- Nicole Leao
- 9 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
O desafio da solidão em meio ao distanciamento social e seus perigos

Para combater a pandemia do novo coronavírus, governos ao redor de todo o mundo implementam o isolamento e distanciamento social. Com isso, milhões de pessoas estão em quarentena doméstica, enfrentando o desafio da solidão, esta que produz insegurança como escreveu o filósofo e sociólogo polonês, Zigmunt Bauman, em seu livro “Amor Líquido”, lançado no início do século, em 2000.
Com o isolamento social se fazendo necessário, não tem como negar que a busca pelo amor digital está mais em alta do que nunca. Recentemente inúmeros aplicativos de relacionamento apresentaram um aumento no número de inscritos e tempo de permanência nas plataformas.
O aplicativo OkCupid, do Match Group, que também opera o Tinder, disse ter visto um aumento no uso entre daters mais jovens em grandes cidades e na plataforma holandesa The Inner Circle, o número de correspondências e mensagens enviadas já aumentou 99% e 116% em março, respectivamente. Além disso, uma pesquisa realizada pelo Happn no mês de março revelou que 54% dos usuários estão dispostos a ter um primeiro encontro por videochamada.
Uma frase emblemática de Bauman é: “os celulares ajudam a conectar as pessoas que estão longe, mas permitem que aqueles que estão próximos se distanciem”, ele escreveu isso logo quando os avanços tecnológicos na comunicação começaram a se perpetuar. Realmente, o celular pode atrapalhar as pessoas quando estão juntas, por se distraírem e desta forma esquecer da presença do outro, mas no momento é este aparelho tão pequeno que está conectando muitos.
Apesar de estar em contato com outras pessoas servir de auxílio a solidão, existem perigos em um relacionamento virtual, um dos principais e mais clichês é que por trás de uma tela o outro, mostra a sua melhor versão. Este perigo pode inclusive estar relacionado a nós mesmos que alimentamos a imaginação com textos ou fotos, criando uma imagem do outro, um modelo que desejamos e que pode não corresponder ao real.
Desta forma, falar com alguém virtualmente sem ter conhecido é como entrar em um mundo de fantasias, o que por um lado pode tornar a vida mais leve em um momento onde tantas tragédias acontecem no mundo, mas também pode ser ruim exatamente por isso. Em “Amor Líquido”, Bauman fala sobre a facilidade de “desconectar-se”, que surgiu com o mundo digital, muitos não conseguem manter um relacionamento a longo prazo.
O amor virtual já difundido antes da pandemia, por vezes aponta pessoas como bens de consumo, um exemplo disso é a forma que aplicativos funcionam, como vitrines de pessoas, onde você escolhe um parceiro que fisicamente e por sua descrição lhe agrada mais, caso haja problemas na comunicação é simples o descarte, basta não responder mais ou bloquear.
No entanto, é possível sim, existir afeto em relacionamos virtuais que podem amenizar a solidão neste momento delicado, mas é necessário manter a racionalidade e lembrar que para amar o outro, precisamos conhecê-lo e mais do que isso, este é um momento de estar bem conosco mesmo, antes de buscar a felicidade em alguém.
Como Bauman já dizia: “A solidão produz insegurança — mas o relacionamento não parece fazer outra coisa. Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior só mudam os nomes que você dá à ansiedade”, mostrando o quanto precisamos estar bem com a nossa própria companhia antes de esperar que o outro supra um vazio.
Nicole Leão de Andrade, 2020
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